A política brasileira nunca foi um mar de rosas, mas nos últimos anos, ela se transformou em um campo minado. A polarização, que já era um fenômeno crescente, atingiu níveis alarmantes, criando um cenário em que governar parece mais difícil do que escalar uma montanha sem equipamento. O resultado? Reformas essenciais emperram, projetos de interesse nacional são engavetados e a população, cansada de esperar por soluções, perde a confiança nas instituições. Mas como chegamos a esse ponto? E, mais importante, como sair dele? Imagine uma família onde os membros não se falam há anos. Qualquer decisão, desde o que comer no jantar até como dividir as contas, vira uma batalha. Agora, multiplique isso por 213 milhões de pessoas. Esse é o retrato do Brasil hoje. A polarização política não é apenas uma divergência de ideias; é uma ruptura que divide o país em dois lados que se veem como inimigos. E, como em qualquer guerra, não há vencedores.
No Congresso Nacional, essa divisão se traduz em impasses. A formação de coalizões, essencial em um sistema multipartidário como o nosso, tornou-se um desafio hercúleo. Partidos que antes negociavam para chegar a um consenso agora preferem o confronto. Projetos de lei que poderiam beneficiar milhões ficam parados porque, no jogo da polarização, o que importa não é o bem comum, mas quem leva a melhor. O resultado é um governo que patina, incapaz de avançar em reformas estruturais necessárias, como a tributária ou a administrativa. O Congresso, por exemplo, deveria ser o espaço do diálogo e da negociação. No entanto, o que vemos são deputados e senadores mais preocupados em agradar suas bases radicais do que em legislar para o país. O Judiciário, por sua vez, é frequentemente chamado a intervir em questões que deveriam ser resolvidas no âmbito político, o que gera críticas de judicialização da política e politização da Justiça.
Enquanto os políticos se digladiam, quem paga o preço é o cidadão comum. São os trabalhadores que esperam por uma reforma tributária que simplifique seus impostos. São os jovens que sonham com um ensino superior de qualidade. São as famílias que precisam de um sistema de saúde eficiente. A polarização não é apenas um debate abstrato, ela tem impactos concretos na vida das pessoas. E o pior é que, quanto mais o governo patina, mais a população se desencanta com a política. A sensação de que “todos são iguais” ou que “nada vai mudar” alimenta o ciclo de desconfiança e apatia. E, em um país onde a participação política já é baixa, isso é um risco enorme para a democracia.
Diante desse cenário desanimador, é fácil perder as esperanças. Mas a polarização não é um destino inevitável. Ela é, acima de tudo, uma escolha. E, como toda escolha, pode ser revertida. É possível discordar sem demonizar o outro. É possível negociar sem trair suas convicções. Para isso, precisamos de líderes que priorizem o diálogo em vez do confronto. Líderes que entendam que governar não é vencer o adversário, mas construir pontes. Fortalecer as instituições democráticas significa valorizar o Congresso como espaço de debate, respeitar o Judiciário como guardião da Constituição e exigir transparência e accountability de todos os poderes. Só assim podemos restaurar a confiança da população.
Precisamos urgentemente repensar nosso papel como cidadãos. A polarização não começa no Congresso ou no Palácio do Planalto; começa nas nossas casas, nos nossos grupos de WhatsApp, nas nossas redes sociais. Somos nós que alimentamos a divisão quando compartilhamos fake news, quando rotulamos quem pensa diferente ou quando desistimos de debater. A mudança começa com cada um de nós. Podemos escolher um rumo onde a política não seja um campo de batalha, mas um espaço de construção coletiva. Onde as diferenças sejam resolvidas com diálogo, não com ódio. Onde o bem comum esteja acima dos interesses individuais. Não será fácil. Mas, como diz o poeta, “a esperança é a última que morre”. E, se quisermos, ainda há tempo para escrever um novo capítulo na história do Brasil. Um capítulo onde a polarização dê lugar à união, e a paralisia, à ação. O futuro do país depende das escolhas que fizermos hoje. Que escolha você vai fazer?
Thales Aguiar – Jornalista e escritor
Especialista em Ciência Política