Caros leitores, o Brasil celebra neste dia 20 de novembro, pela primeira vez como feriado nacional, o Dia da Consciência Negra. A data, que homenageia Zumbi dos Palmares, é um marco para a reflexão sobre a luta e a resistência do povo negro em uma sociedade ainda marcada por profundas desigualdades raciais. Embora represente uma vitória do movimento negro, o feriado deve ir além de discursos simbólicos e funcionar como um convite para ações de fato contra o racismo estrutural que permeia nosso país. O Brasil é um dos países com maior população negra do mundo fora do continente africano. Também ocupa uma posição alarmante quando se trata de desigualdades sociais e violência racial. Dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que pessoas negras representam 78,9% das vítimas de homicídio no país.
O racismo, além de ser um fenômeno social, é também um crime previsto pela Constituição Federal de 1988, que agora é considerado inafiançável e imprescritível. Segundo o levantamento do Ministério da Justiça, apenas 3% das denúncias de racismo resultam em condenações. Isso evidencia não apenas uma subnotificação dos casos, mas também a persistência de um sistema jurídico pouco efetivo na garantia da igualdade racial. A discriminação racial não se manifesta apenas em agressões explícitas ou comentários ofensivos, mas também na negação de direitos básicos, como acesso à educação de qualidade, mercado de trabalho digno e segurança pública. A cada dia, milhões de brasileiros negros são confrontados com as consequências de um racismo estrutural que, muitas vezes, é invisibilizado ou naturalizado por parte da sociedade.
A criação do feriado nacional no Dia da Consciência Negra é um avanço no reconhecimento da luta histórica do povo negro. No entanto, é essencial que esse momento seja usado para ampliar debates e reforçar compromissos na construção de políticas públicas efetivas. O Brasil precisa de uma educação antirracista que capacite as novas gerações a desconstruir preconceitos e criar uma sociedade mais inclusiva. Além disso, é necessário fortalecer o enfrentamento ao racismo em suas diferentes formas, investindo em ações afirmativas, ampliando a representatividade negra em espaços de poder e garantindo que denúncias de crimes raciais sejam investigadas com rigor. Combater o racismo não é apenas um dever moral, mas uma obrigação constitucional que requer o esforço conjunto do Estado e da sociedade.
Como jornalista, convivendo com diversas pessoas negras, e eu, ainda que de pele branca, mas neto materno de sangue negro, já testemunhei o impacto do racismo nas histórias de vida de muitos brasileiros e brasileiras. Como cidadão, sempre vou acreditar que a construção de um país mais justo começa no reconhecimento e na valorização da diversidade que nos compõe. O Dia da Consciência Negra não é apenas uma data comemorativa, mas um chamado à ação efetiva. Como bem afirmou o ativista norte-americano Malcolm X, em uma frase que ressoa universalmente: “Não julgo um homem pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter.” Que este feriado nacional seja um marco de transformação e compromisso na luta contra o racismo, promovendo uma sociedade mais igualitária para todos.
Thales Aguiar – Jornalista e escritor