Opinião Emerson Souza Gomes: Quais os riscos do avanço tecnológico?

Quais os riscos do avanço tecnológico?
Desde a extinção dos mamutes até o advento das IA’s, não se tem notícia de inovação tecnológica tão pujante quanto a que presenciamos. Os avanços que pertenciam aos domínios da ficção científica agora fazem parte do cotidiano.

Comparando com outros tempos, o conforto propiciado pela tecnologia é inimaginável. No entanto, toda essa revolução levanta algumas indagações, ou algumas preocupações, nem sempre superficiais…

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Antes sabíamos de cor a tabuada e boa parte dos números de telefone de amigos e familiares. Hoje, essa informação está a um toque de distância, armazenada em nossos celulares.

A mesma dependência tecnológica se aplica aos trajetos de automóveis. Antigamente, planejar uma rota exigia a leitura de mapas, ter senso de direção e ser cordial com o frentista do posto de gasolina. Agora, confiamos nosso destino a aplicativos como o Google Maps.
Esses exemplos representam uma tendência preocupante, a perda do exercício da memória e o declínio do raciocínio.

E há estudos que indicam que essa dependência tecnológica pode afetar nossas capacidades cognitivas a ponto de reduzir nossa capacidade de resolver problemas de maneira independente.

Como o novo mundo será quando envelhecer
A tecnologia, e o conforto que ela proporciona, provoca uma atitude mental ociosa, levando a uma diminuição da atividade cognitiva.
Embora seja inegável que a tecnologia nos traga inúmeros benefícios, o seu mau uso pode gerar um impacto negativo significativo.

Há inclusive preocupações de que a falta de exercício mental possa contribuir para, no futuro, enfrentarmos uma verdadeira pandemia de doenças como Alzheimer e outras condições relacionadas ao declínio cognitivo.

A superficialidade
Os impactos negativos do avanço tecnológico não se dão apenas na memória e no raciocínio lógico; vêm impactam também a forma de pensar.
O acesso a uma quantidade substancial de informações seria magnífico se não viesse acompanhado de desinformação, teorias da conspiração e facknews.

Afora os danos que já conhecemos, como a destruição de reputações e riscos ao patrimônio e à saúde das pessoas, o bombardeio dessa espécie de conteúdo vem impactando negativamente a mentalidade da sociedade, ou seja, suas crenças, maneiras de pensar, moral, psique etc.

Um resultado disso, é o batalhão de céticos que vemos hoje em dia. Afinal, duvidar virou uma praxe e um pressuposto de QI elevado!

Mentalidade de época
É certo que a informação nos deu acesso a aspectos da realidade que antes eram negligenciados, mas para os céticos convictos, a crendice e a ciência estão no mesmo patamar, e não estão.

No nosso caso, o ceticismo revela um senso crítico débil que menospreza ou desconhece a tradição, o estado da arte, a ciência.

E aí chegamos a uma segunda preocupação: muita informação, com baixa cultura, pode afetar negativamente a forma de pensar de uma sociedade, ou seja, a mentalidade de época.

Voltamos a acreditar em dragões
Ainda que o homo sapiens seja o mesmo de sempre, o que diferencia o homem da idade das trevas do pós-moderno é a sua mentalidade.

Mas veja: tal qual nos mitos medievais, voltamos a acreditar em dragões escondidos em cavernas (para tudo há uma teoria da conspiração); cremos em pedras filosofais (é possível ficar são, belo ou rico clicando em um link); Merlin e toda a sua sabedoria estão em um grupo de whatsapp.

Nada do que foi será
Para os gregos, Caos foi o primeiro deus, que não só criou o universo cognoscível, mas todos as demais divindades do Olimpo.

E, de fato, este verdadeiro big bang de tecnologia vem nos arremetendo a um mundo caótico, exigindo que estejamos sempre preparados para a mudança, pois, como diz o verso da música: Nada do que foi será…

De onde o gato pula
Se por um lado a tecnologia nos acena com conforto e a possiblidade de organizarmos cada vez mais o mundo a nossa volta, por outro, o avanço tecnológico vem causando preocupações com a saúde, com o patrimônio e, sobretudo, com a atitude mental das pessoas.

Ao lado de investimentos em infraestrutura, ciência e a tecnologia sempre foram o pulo do gato para a formação de impérios, no entanto, não se pode esquecer de onde o gato tem pulado ao longo da história, ou seja, do grau de educação de um povo.

A Época do Gelo
Precisamos eliminar urgente o descompasso entre cultura e avanço tecnológico, e assim nos precavermos dos malefícios propiciados pela própria tecnologia.

Caso contrário, a distopia do cinema pode muito bem virar realidade em um planeta que não será dominado por macacos, invadido por aliens, ou destruído pela temida (bu!) inteligência artificial…

…mas habitado por mamutes…
…por mamutes com inteligência superficial (!)

Emerson Souza Gomes
Advogado e blogueiro
www.cenajuridica.com.br