ESPECIAL: A fumaça que parou uma cidade – Parte 1

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O acidente que causou mais de 100 mortes em Beirute, Líbano, na terça-feira, dia 4, tem semelhanças com o incêndio químico que aconteceu em 2013 em São Francisco do Sul conforme especialistas. O produto presente nos mesmos acidentes teria sido o nitrato de amônio. Claro, que os impactos foram totalmente diferentes.

O produto presente nos dois locais pode ser utilizado para fins diferentes. Pode ser para a produção de fertilizante para a agricultura ou para fabricação de explosivos. Ou seja, tem grande potencial explosivo.

Em entrevista para a jornalista Patrícia Della Justina, do Grupo NSC, o engenheiro químico e presidente do Sindicato dos Químicos de Santa Catarina, Saulo Vitorino, disse que há algumas semelhanças podem ser percebidas nos dois episódios, mas ainda é cedo para conclusões.

A partir de hoje vamos reproduzir uma reportagem sobre o que aconteceu em São Francisco do Sul em 2013. O texto “A fumaça que parou uma cidade”, produzido pelo estudante de Jornalismo, Marcelo Henrique, será dividido em sete partes divulgadas durante uma semana.

A fumaça que parou uma cidade

Quase sete anos depois, quais são as marcas que um histórico incidente químico na Global Logística deixou em São Francisco do Sul?

Por Marcelo Henrique

Em 24 de setembro de 2013, o terminal de cargas da empresa Global Logística, na região do bairro Paulas em São Francisco do Sul, ficou nacional e internacionalmente conhecido por um incidente que, além de instaurar uma gigante fumaça pela cidade, foi capaz de interromper e assustar o cotidiano da cidade mais antiga de Santa Catarina. O então governador do estado, Raimundo Colombo, chegou a decretar situação de emergência.

Com o surgimento avassalador de um gás tóxico que perdurou durante três dias consecutivos, muitas pessoas paralisaram suas atividades rotineiras a ponto de deixar o município para escapar da ameaça. Segundo o governo de Santa Catarina, cerca de 380 moradores que moravam em um raio de dois quilômetros do local foram retirados pelos bombeiros e levados para a Escola Estadual Claurenice Vieira Caldeira que serviu de abrigo e amparo para as pessoas que tiveram que abandonar suas casas. Com a ameaça iminente de uma fumaça desconhecida e possivelmente perigosa, a população ficou apreensiva. Grande parte dela decidiu deixar a cidade e se mudar temporariamente para municípios vizinhos.

Apesar de haver unanimidade sobre a ideia de que muitos moradores saíram da cidade durante o acontecimento, existe uma certa inconsistência nas estimativas. A então Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Francisco do Sul alegou a saída de 20% da população, já o empresário e ex-prefeito daquele ano, Luiz Roberto de Oliveira, popularmente conhecido como Luiz Zera, apontou que 80% dos moradores deixaram o município por causa de fumaça.

Luiz Zera descreveu a que forma recebeu a notícia do ocorrido: “Fomos comunicados por nossa Defesa Civil que um incêndio de proporções desconhecidas havia iniciado em um dos armazéns de carga geral próximo ao porto. De imediato, como chefe do executivo na época, determinei isolamento de 500 metros da área afetada, alerta geral a todas às forças de defesa pública e evacuação dos moradores num perímetro de 1.500 metros.”

Entretanto, ao acompanhar os perigos que a fumaça oferecia, foi decidido aumentar o perímetro de segurança para três quilômetros, realizando uma evacuação geral dos habitantes dentro deste raio de giro.

Para se organizar e buscar formas de combate, a Prefeitura criou o Gabinete de Crise em conjunto com Governo Estadual e Federal, que se estabeleceu em duas centrais: uma para administrar a crise e as ações que envolviam todos os trabalhos, e outra para atuar diretamente no combate ao incêndio. Além disso, foram prestados diversos serviços de assistência à população, como: reforço da segurança pública visando evitar saques e depredações, distribuição de máscaras, assistência hospitalar redobrada, criação de abrigos públicos para os desabrigados e atualização de informações a cada 12 horas.
Luiz Zera ressalta que as lições deixadas pelo ocorrido, incentivaram uma fiscalização mais eficiente das mercadorias recebidas no Porto de São Francisco do Sul (local em que os fertilizantes da Global Logística chegaram): “Atualmente trabalhamos com muito mais segurança e informação na manipulação destas cargas ocasionando melhoria de produção e geração de receitas e divisas para a cidade, aliado à proteção da população e cuidado com o meio ambiente.”

Segundo o ex-prefeito, de imediato a cidade sofreu um abalo financeiro em decorrência do incidente, sobretudo nos cofres públicos, porém, depois de alguns meses, ele revela que a situação se estabilizou: “Os impactos socioeconômicos refletiram-se nos meses advindos devido à paralisação, neste interim das atividades portuárias e movimentação laboral do dia a dia do município, uma vez que, controlado a situação emergencial, São Francisco do Sul rapidamente voltou a sua normalidade.”


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